Quarta, 27 Setembro 2023 05:45

Presidente eleita quer dar representatividade nacional para a AML

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Luciene Carvalho

“Eu acredito que devo caminhar nos próximos dois anos por uma estrada bem sinalizada”. Foi o que disse a poeta Luciene Carvalho, que no último sábado 16 foi eleita para a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras, cargo ocupado pela jornalista Sueli Batista. A transmissão do cargo, com a posse da nova mesa diretora, conselhos editorial e fiscal ocorrerá na noite do dia 30 de setembro. Luciene que orgulha-se em dizer que é a primeira acadêmica negra que ocupa a presidência, aliado a outro fato histórico, de uma mulher passar a cadeira para outra. Ela confia que fará uma gestão comunitária e se diz cheia de esperança e também encantada com a possibilidade de sua administração ser agregadora, seguindo o tema “União e Tradição”.



A presidente eleita disse que quando a possibilidade de assumir a presidência de uma das mais importantes instituições culturais mato-grossense lhe chegou, ela primeiro foi tomada pelo “espanto e negação”. O que mudou, entretanto, dentro de sua percepção, foi a analise que fez do trabalho que vem sendo feito, na instituição centenária e isso não somente pela longeva Academia Mato-Grossense de Letras manter uma tradição, mas também por algo que a deixou muito a vontade, que foi o fato a mesma ter passado por uma revisão estatutária na atual gestão.
“O novo Estatuto bem escrito, bem construído deu um norte, uma pauta muito importante, clara e evidente”, disse Luciane, acrescentando que isso somada a extrema experiência de quem já vivenciou a gestão, seja como presidente, ou atuando na secretaria e tesouraria faz com que ela deixe fluir sua humildade para construir em conjunto.

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Com relação ao étnico\racial no processo de sua trajetória ela acredita que, ser uma mulher negra, estando como acadêmica imortal e eleita presidente não a isenta de conceitos culturais ancestrais, cuja dívida social ainda não foi equacionada no país, atualizando-se seus valores. “Isso residuou sobre mim olhares de menos valor, a melanina que cobre a pele dentro da qual eu sigo sofre os mesmos olhares depreciativos”, destaca Luciene.
A poeta está convencida de que ter encontrado o seu lugar de fala na sua poesia e posteriormente na Academia de Letras, lhe trouxe empoderamento e valores na voz. “Os meus versos tem uma força endógena muito grande é vivencial, uma escrita que vai me absorvendo, comendo o mundo pelos poros como se fosse guardando em mim e, no movimento posterior da decantação, traz a experiência de guardar o que vou vivendo e vou vendo, absorvendo pelos seus sentidos. É quando acontece a poese”. É a partir de então, que ocorre a sua entrega para o mundo, num processo reverso, em forma de poesia.
Luciene tem a poesia como o bem maior da sua vida. Para ela nada é maior que a sua obra, nela própria. É o calor que elas tem que ela guarda e que se processa nela, não na forma dela estar no mundo. “A poesia, a literatura, o lirismo são o que de mais valioso tenho em mim”. A sua eleição é sem dúvida a certeza, que sim, estamos diante de um fato novo. Ela acredita que não é o mais importante o fato de que ela seja uma mulher negra, mas acredita que isso impregna em tudo que ela é, “porque é o primeiro que se apresenta em mim. Não me limita, não me impede de seguir, mas eu preciso lidar com os processos e também tem a questão da representatividade, independente de eu acreditar que a minha capacidade de gestão e a qualidade da escrita que eu trago sejam de mais importantes, o povo preto tem o direito de ser representado quando uma mulher preta ocupa espaço de poder, mas longe de mim fazer disso um modo de agir ou de querer cota”, frisou.
Deixando patente que odiaria estar num lugar, que está, por cota, Luciene mostra-se convicta de que esta ocupando o posto por oportunidade, por crédito, torcida, por boa companhia, por olhar aguçado de pessoas sábias que vão nortear os caminhos a seguir. Aponta que a questão negra, está dando um passo adiante no Mato Grosso, com o fato dela ter sido eleita presidente da Academia Mato-Grossense de Letras.
“Que a instituição seja endereço de encontramento de nomes e que pensadores nacionais possam vir até à nossa casa, que coloca Mato Grosso num espaço contemporâneo, desta coisa cultural efervescente que começa a acordar no país, acredito que não precise furar a tal bolha cultural que envolve a produção cultural estadual. Talvez se nós trouxermos pessoas que tem este circuito nacional e essa é uma intenção minha, a Casa Barão possa ser o local dos construtores, pensadores, atuadores e de grandes artistas”, pontua.
Luciene potencializa seu desejo e dará o seu melhor para que a a AML passe a a integrar o cenário nacional dos criadores. “Acredito no percurso traçado para que a instituição alcance “esta estatura”. Sua principal meta é dar visibilidade para todas as pessoas que compõem a casa e para que a população mato-grossense entenda que existe a casa ancestral e centenária, mas também existem pessoas”. Disse que gostaria que os imortais mostrassem suas produções, para que a Casa Barão ganhe um nível de transparência de representatividade, para que as pessoas passem a saber o nome e o rosto de quem está no local. Com relação a mulher acadêmica, na visão da presidente eleita, a AML é um lugar que o pensamento e a criação do feminino é forte e importante. Enquanto instituição, ela tem muito ainda a ser conhecida, e seus membros nominados, apresentados em seus fazeres artísticos e culturais. “Minha meta é transparência, é empatia, é fomento de criação, é subjetividade poética, é criação artística”, revelou, esperando que a Academia dialogue com as artes e com a população mato-grossense e não esqueça a vocação estadual que tem.
Luciene aponta que a mesa diretora, formada por ela na presidência, e que tem, Flávio José Ferreira, na vice-presidência; Maria Cristina de Aguiar Campos, como secretária e Agnaldo Rodrigues da Silva, na tesouraria; e o conselho editorial, que conta com Elizabeth Madureura Siqueira, Olga Maria Castrillon Mendes e Marli Walker; conselho fiscal que conta com Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão, Marta Cocco, reúnem um “time de craques, quanto talento junto quanta experiência, competência produtividade no conjunto pessoas”.
A presidente eleita aposta num trabalho coletivo e diz que tem a fonte onde beber e aprender e está feliz por ser acompanhada, fortalecida e apoiada no processo de gestão que se iniciará e isso ela vê como simplesmente genial, “mata a solidão ou a pretensão de que meu ego tenha grandes espaços. Eu realmente acredito que as pessoas que me convidaram a vir ocupar este lugar estarão comigo, torço por isso, acredito que a realização do trabalho coletivo seja o que de melhor que nóss possamos trazer para este momento na Academia.
O novo Estatuto, dentre mudanças muito aguardadas, a exemplo da eliminação do voto pelo Correio, contemplou a criação do Conselho Superior, composto por ex-presidentes, sendo que terá na sua formação: Sueli Batista, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, Eduardo Mahon, Nilza Queiroz Freire e Ubiratã Nascentes Alves. Pessoas que estarão próximas de Luciene com uma jornada inexperiente e ela terá a humildade de compartilhar suas dúvidas, garante.
Ao falar da presidente Sueli Batista, que além de ter sido uma gestora que na opinião de Luciene fez um trabalho estruturante, ela aponta que a gestora não só estruturou a casa enquanto instituição, observando-se a parte administrativa e financeira, mas que também dialogou com as outras casas do gênero, com uma dimensão interestadual e nacional. Tal representatividade, na sua avaliação mostrou que ter um grupo de suporte faz toda diferença na realização de atividades, e diz que teve também a questão de seu talento de comunicadora, pois a divulgação da instituição foi muito abrangente e ela nunca viu nada igual nos anos que passou a ocupar uma cadeira.

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“A Sueli é uma mulher valente, corajosa e atuante. Ela ultrapassou barreiras, soube muito bem ocupar territórios, uma mulher de jornada, confiante do trabalho que precisa ser feito, e não é uma sucessão o que ocorrerá, mas sim uma transição. Eu quero contar com sua expertise na analise de caminhos que nos poderemos seguir, pois sou imensamente grata porque estamos fazendo esse episódio único na casa, quando uma mulher passa o bastão para outra, quando passa a cadeira para outra, isso é um sinal dos novos tempos, uma ousadia da contemporaneidade, isso é ousadia de fazer o não feito, o não criado. É um momento de emoção, de importância e de empoderamento feminino, que tão bem combina e condiz com a jornada que a gestora vem construindo em Mato Grosso e no país”. Vale lembrar que Sueli fundou em Cuiabá uma das mais representativas organizações femininas de mulheres de negócios e profissionais, a BPW Cuiabá e presidiu a mesma em nível nacional. Hoje é chanceler da Ordem da Rosa JK, da Academia Brasileira de Honrariais ao Mérito.
Para Luciene um dos pontos altos da gestão de Sueli Batista foi a realização durante 2023 do Sarau Literomusical 100+1, mês a mês promoveu entretenimento e o conhecimento. Um projeto que pretende dar continuidade, porque é da casa. “Na minha gestão na instituição não quero desperdiçar o que foi conquistado, mas repetir, manter, acrescer e levar. Não abrimos mão de oferecer produtos de qualidade ao público”, salentou. A prtewsidente eleita disse que ainda não sabe se mudará algo no projeto e que as oficinas realizadas com os pratas da casa foram muito importantes para a interatividade com a sociedade.
Ao ser perguntada o que ela com sua vasta experiência teria a dizer aos novos autores, ele destacou que mais que dizer algo ela queria deixar um convite para que “escrevam, publiquem, permitam-se ser lidos, a crítica importa, os a mídia importa, mas acima de tudo o leitor importa”. Para Luciene o leitor É ele é o grande seletor, selecionador, é o grande diálogo continuado que o escritor tem.
Com relação a AML, a poeta diz que é a casa escritor no sentido continuado, sentido imortal que a obra tem. Por esta razão o convite é também para que conheça a casa e venha conhecer seus membros e acima de todas as coisas, que estejam atentos a subjetividade, as suas narrativas e as suas escritas e a relação com as suas obras. “Isso tudo só vai existir se houver produção, “nenhuma escrita nasce pronta, existe maturação, é necessário que expressemos, elaboremos multiplicando, porque é a partir disso que se constrói uma obra consiste”, finalizou.

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Além de poeta e escritora, Luciene é diretora teatral e incursiona como professora na MT Escola de Teatro, ela já publicou: Conta-gotas; Sumo de Lascívia; Aquelarre ou o livro de Madalena; Porto Cururu e Siriri do Rio Abaixo (Instituto Usina) Caderno dr caligrafia (Cathedral) Teia (Teia 33), Devaneios poéticos coletânea (EdUFMT), Insônia (Entrelinhas), Ladra de Flores, Dona e Na Pele Carlini e Caniato). Livros que conquistaram prêmios e condecorações. Parte importante do seu trabalho, como declamadora, se faz em shows poéticos em que une figurino, efeitos cênicos e trilhas musicais para oferecer sua poesia viva e colocá-la a serviço da emoção da plateia. Ocupa a Cadeira n° 31 da Academia Mato-Grossense de Letras. É a primeira e única escritora negra a ser eleita ao longo de 100 anos da instituição, e agora marca o início do bicentenário também com seu pioneirismo.

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