ANTÔNIO DE PÁDUA E SILVA
Da reportagem
O momento era de festa e o ambiente não tão formal ou acadêmico. Na posse da escritora e crítica literária Yasmin Jamil Nadaf, o clima era de tranquilidade, onde se juntava acadêmicos, escritores, jornalistas e convidados.
Todo o ritual de posse transcorreu dentro do esperado. Apenas o discurso da nova imortal marcou pela contundência e atualidade, no que se refere a reivindicações a favor da literatura mato-grossense.
Depois de falar de Antônio Tolentino de Almeida e Silva Freire, como exemplos literários, Yasmin Nadaf fez do seu discurso de posse um momento de compromisso: “Meus senhores, sei que este é um momento de festa, mas sei também que é um momento de compromisso. Aquele compromisso de fidelidade com o fomento, a valorização, a preservação e a perpetuação desta mesma história que tentei rapidamente apresentar. Assim, como Mestre na área da literatura, eu não poderia de deixar de citar, nesta oportunidade, um dos pontos que julgo ser imprescindível à realização destes ideais.
Refiro-me à necessidade da inclusão do ensino da literatura mato-grossense nos currículos de I e II Graus e nível superior. Aspecto que deveria ser visto com mais atenção por parte dos nossos dirigentes educacionais. Neste ponto eu quero registrar o meu lamento pela recente exclusão da disciplina intitulada “Literatura Mato-grossense” do currículo da Faculdade de Letras da nossa Universidade Federal de Mato Grosso. Universidade, por sinal, onde, como integrante de seu Quadro Técnico, fato que me lisonjeia, venho produzindo conhecimento científico, ao lado do corpo docente.
Mas esta disciplina, como dizíamos, foi recentemente excluída após ser introduzida, na década de 70, pela ardorosa luta da professora Isabel Campos, a primeira a lecionar a disciplina na referida instituição.
Com a sua exclusão assomam-se consequências inevitáveis. Vou citar apenas duas delas para não cansar aos senhores: o enfraquecimento da política de orientação e formação cultural e literária regionais aos alunos que se voltarão ao ensino das Escolas de I e II Graus, e a redução ainda maior do já tão limitado espaço a discussões e análises profundas a respeito da literatura que se produz em nosso chão. E isto justamente num momento em que Mato Grosso nos dá mostras de uma efervescente produção literária.”
Em seguida, Yasmin Jamil Nadaf fala sobre a Lei Hermes de Abreu: “Tenho acompanhado com satisfação o ressurgimento desta efervescência já demonstrada pela história em épocas anteriores. E, como agente participante deste processo, sei do dever que temos de lutar pelo fortalecimento deste panorama. Precisamos divulgar mais os nossos autores, indicar a literatura de suas obras, cobrar dos agentes governamentais ações de estímulo à política editorial, tal como a necessidade urgente, em nosso Estado, da regulamentação da Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Hermes de Abreu, que inúmeros benefícios trará a esse terreno.”
Yasmin Nadaf ressalta também, no seu discurso de posse da Academia Mato-grossense de Letras, obras de trabalhos alguns escritores “Pois, caso a história insista em andar na contramão, o que iremos dizer a produção dos autores desta Casa representados em minha curta fala pelos nomes Tolentino e Freire? E o que iremos dizer a obra dos demais autores que apesar de ainda ausentes do Quadro desta Casa também são protagonistas do processo da criação literária em nossa região? Falo agora dos poemas mundialmente conhecidos e estudados de Wlademir Dias-Pino. Falo da prosa de realismo fantástico de Ricardo Guilherme Dicke e de Tereza Albuês que nos leva a reflexão a respeito da racionalidade imposta pela cultura ocidental.
Falo da poesia simultaneamente intimista e existencialista e da crônica de “olhar fotográfico” de Lucinda Noqueira Persona. Falo da bem elaborada escrita literária do poeta-amigo Ivens Cuiabano Scaff que de tão impregnada de elementos de nossa terra chega a exalar o cheiro gostoso de pequi. Falo dos poemas de cunho social de João Bosquo e de Maria das Graças Campos. Falo do semioticismo inusitado de Marília Beatriz de Figueiredo Leite nos ensinando a todo o instante novas formas de se ler o mundo sem preconceitos. Falo da poesia feminina/feminista de Marilza Ribeiro. Falo da prosa experimental de Aclyse de Mattos e de Hilda Magalhães. Falo da surpreendente, clara e ora comovente e ora bem humorada literatura infanto-juvenil de Antônio de Pádua e Silva pronta e própria para despertar nos primeiros leitores o gosto pela leitura. E, falo, também, da dinâmica produção literária em quadrinhos de Gabriel de Mattos e de Wander Antunes. E poderia ainda continuar falando de muitos outros pois extensa é a lista daqueles que em Mato Grosso fazem da escrita literária exercício do seu dia-a-dia.”.
Dessa maneira, a “Casa de Leverger” ganha uma integrante convicta da importância e da necessidade da literatura como meio de evolução e crescimento do ser humano. A Academia fez, com certeza, uma boa escolha e esperamos que todos os compromissos de Yasmin Nadaf sejam concretizados em benefício de toda a sociedade mato-grossense.