Além dos acadêmicos, o Salão Nobre da AML abrigou familiares, amigos e amigas do homenageado, que tiveram o privilégio de conhecê-lo e com ele conviver.
Ivens, ocupante da Cadeira 7, aquele que há de permanecer para sempre em nossas memórias, foi celebrado com amor. A presidente da AML, Luciene Carvalho, disse que nomes que terminam com a letra ‘S’ são plurais: “Havia um Ivens para cada um de nós”, o que soa como verdade incontestável, pois o humanitarismo do imortal ausente preconizou, ao longo de toda a sua vida, esse jeito de viver pluralizado, esbanjando as mais boníssimas características da alma humana.
“De antemão, aviso que trago em mim a certeza de que minhas palavras nunca irão traduzir aquele que se parecia com um rio, de tanta sede que saciou: de alento, de Letras, de cura, de zelo, de troca, de tempo, de erudição, de atenção, de oportunidade, de ciência... Um amigo da cidade que, desde o dia 21 de fevereiro de 2024, se desconsola, estarrecida e órfã” – proferiu Luciene, em seu discurso no começo da sessão.
Coube à acadêmica Yasmin Nadaf, seguindo os ritos das sessões magnas, o discurso sobre a trajetória de Ivens, representando a AML. “Através de uma linguagem simples, direta e de enredos lineares, deixou mensagens para os pequenos que um dia se tornarão adultos; e para os adultos deixou um lembrete para carregarmos nas bolsas ou nos bolsos para não esquecermos. Entre essas lições, destacamos a importância do amor e da amizade, da lealdade, da justiça e da igualdade, do respeito aos idosos, que tanto aprendizado positivo têm a nos passar, da valorização dos habitantes dos sítios e das aldeias, do carinho com os animais e com as árvores, flores e plantas, enfim, de cuidados com a natureza/terra e o homem deste planeta, bem como a necessária relação de harmonia entre ambos”, ressaltou Yasmin ao longo da sua fala.
A sessão abriu espaço para que um familiar de Ivens se manifestasse. Foi a vez do sobrinho do homenageado, também médico, Alfredo Scaff, subir à tribuna: “Acho que ele concordaria comigo em pensar a Arte como uma expressão dos afetos humanos em conexão com a natureza. Através dela, mergulhamos nas emoções e compreendemos a nossa interconexão com o mundo ao redor... Escrever, contar histórias é fundamental. Não é somente um atributo cultural; é o que nos torna e nos define como humanos”.
Todos os discursantes vivenciaram os sintomas da emoção, traduzidos em embargo na voz e umedecimento dos olhos. Com a sessão se encaminhando para o final, nova e diferenciada experiência emotiva balançou os presentes. O historiador, ator e diretor teatral, Benone Lopes, ingressou no Salão Nobre interpretando o poema épico de Ivens para a sua cidade – Kyvaverá. Trazer no próprio nome o registro de onde nasceu, certamente, não é para qualquer poeta: “Disque... Tanto tempo já passou / Índios, lontras... Já não há / Disque... Certeza ninguém dá / A cidade existe, o rio persiste / Cidade e rio com o mesmo nome / fácil e gostoso de pronunciar / Cuiabá”.
Antes de nos encaminharmos, todos os presentes, ao Salão Social da AML, onde um delicioso chá com bolo nos aguardava... Mais emoção. Luciene Carvalho entregou à Bia Scaff, sobrinha de Ivens, um buquê de flores.
Com os corações embebidos de sutil e magna saudade, fechamos este registro com um trecho da fala de Alfredo Scaff, na qual reproduziu uma frase de Ivens Cuiabano Scaff: “E é isso mesmo. Os finais são, na verdade, inícios”.