Integração e importantes trocas de experiências, a Academia Mato-Grossense de Letras-AML, através da presidente Sueli Batista participou ativamente do Encontro de Academias de Letras do Brasil Central e Convidados, evento promovido em Goiânia de 19 a 21 de outubro, pela Academia Goiana de Letras.
“A participação da mulher na vida acadêmica” foi o tema que ela abordou, contribuindo ainda com a “Carta de Goiânia”, escrita por todos os presidentes de Academias participantes do evento, conduzido por José Ubirajara Galli Vieira, presidente da AGL e coordenado pela ex-presidente, Iêda Selma de Alencar.
Participaram como palestrantes os presidentes das Academias de Goiás, Ubirajara Galli; de Mato Grosso, Sueli Batista; Mato Grosso do Sul, Henrique Medeiros; de Tocantins Mary Sônia Valadares, do Espírito Santo, Ester Vieira; do Rio de Janeiro, Sérgio Fonta. No evento ocorreram também conferências de abertura, com o professor doutor da UFG, Eguimar Felício Chaveiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e de encerramento, com o escritor e decano da AGL, Gilberto Mendonça Telles, um ícone da literatura brasileira.
Leia a palestra de Sueli Batista, e na sequência a Carta de Goiânia. Uma síntese do que foi o Encontro, que terá a sua segunda edição em Cuiabá, em setembro de 2023. Sueli prestou homenagens aos presidentes e personalidades do âmbito cultural de Goiás, a exembro da União Brasileira de Escritores, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Associação de Jornalistas, Instituto Histórico e Geográfico, com a medalha e o diploma do mérito do centenário da AML e outorgou duas comendas José de Mesquita, a mais altahomenagem da AML, para dois presidentes: Ubirajara Galli e Henrique Medeiros.
PALESTRA DE SUELI BATISTA
“A participação da mulher na vida acadêmica”
Quero iniciar a minha fala colocando a lira da mulher goiana na voz, como forma de respeito ao espaço que momentaneamente ocupo, para abordar um tema que acredito que seja de muita relevância para o equilíbrio de gênero nos espaços das Academias de Letras, bem como para a cultura, seja ela de uma cidade, de um estado ou do país, onde existem tantas mulheres a caminhar, abrindo com os próprios pés, trilhas, alamedas, estradas...vias paras suas idas e vindas.
Mulheres que em suas caminhadas trocam de cidades, de sotaques e colocam mais leveza em suas almas, a exemplo de Lêda Selma, a segunda mulher a presidir a Academia Goiana de Letras, que veio da Bahia ainda menina e escolheu Goiânia para viver, criar e sonhar, movendo-se pelo humor, pela emoção através do que produz, seja poesia, prosa, conto e até o contro, explicado como "o conto que é crônica e a crônica que é conto", enlaçando tudo na sua forma multifacetada de ser e existir, não desprendendo-se de sua raiz, somando sua voz a tantas vozes que povoa a sua origem.
“Nordestino é árvore que não arqueia
Coração que não murcha
Fibra que não se esgarça
É cacto de mãos postas
A conectar-se com o Céu e
A saciar a sede da seca”
Lhe reverencio Lêda Selma, por seu ano cultural.
Reverencio também as mulheres que em suas andanças, trocaram até um dedo de prosa com elas próprias. Isso me remeteu a uma conversa que teve Cora Coralina, com Anna Lima dos Guimarães Peixoto Breta.
"ANINHA E SUAS PEDRAS
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede."
Como poderia eu, não falar aqui de Cora Coralina, poetisa, cronista e contista, de Goiás, e imortalizada por suas obras, e pelas Academias de Letras". A primeira que ela abraçou, como membro fundadora foi a Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás- AFLAG, em novembro de 1970. Ela teve o seu nome como patrona e primeira titular da Cadeira 5. Segundo refiro-me a instituição que a abraçou, anos depois, a Academia Goiana de Letras- AGL, que lhe empossou em 1984, sendo ocupante da Cadeira 38.
Ao todo 15 mulheres foram eleitas para a AGL, hoje 8 compõe seus quadros. Duas delas foram presidentes. A primeira foi a escritora e educadora, Maria do Rosário Cassimiro, 80 anos após a fundação da AGL e a segunda Leda Selma. Tive o privilégio de conhecer ambas por intermédio deste encontro.
Quando recebi o honroso convite para ser uma das conferencistas do presente evento, sugeri que a minha temática contemplasse a mulher nos espaços das Academias de Letras, o que foi de pronto aceito.
A Academia Mato-Grossense de Letras, a qual presido pela segunda gestão, sendo responsável pela comemoração do seu centenário, foi uma das primeiras no Brasil a ter admitido uma mulher em seus quadros. Em 17 de julho de 1921, em uma das reuniões preparatórias para a fundação do Centro Matogrossense de Letras, a sua raiz, foi proposto e aprovado por todos os membros, o nome da professora Ana Luiza da Silva Prado para ocupar uma das cadeiras. Tal fato, entretanto, não é uma demonstração de que a instituição manteve-se sempre voltada ao progresso feminino na literatura. Para se ter uma ideia chegou aos 100 anos, tendo apenas três mulheres eleitas presidentes: A cronista e contabilista Nilza Queiroz Freire, foi a primeira; a advogada poetisa, escritora e professora doutora Marília Beatriz de Figueiredo Leite a segunda e eu, jornalista, poetisa e memorialista a terceira.
Atualmente, das 40 cadeiras, 3 estão vagas; 13 tem mulheres como titulares e 24 são ocupadas por homens. Ao longo da trajetória da instituição temos o registro de 181 membros na AML, e nem 10 por cento do quadro ocupado por mulheres, ao todo foram 18, das quais 17 eleitas e uma fundadora.
Fechamos as comemorações do centenário da AML, em 2021, com todas as cadeiras preenchidas e um ano depois registramos 3 falecimentos, entre os seus membros.
Que as mulheres sejam encorajadas de entrarem no processo eleitoral. É preciso ampliar as vozes femininas na Casa Barão de Melgaço, sede da instituição, assim como ampliá-las também na Casa Professor Colemar Natal e Silva e de outras casas e espaços que abrigam as Academias de Letras, principalmente da ABL.
Para que isso ocorra, entretanto, acredito que seja preciso, que a mulher se apresente ao pleito. Digo isso porque como presidente da AML, das duas vagas que abri na minha primeira gestão, tivemos 11 candidatos e apenas uma inscrição foi preenchida por uma escritora e ela foi exitosa. Sim, a mulher ainda é passiva de preconceito e no segmento da cultura não é diferente, mas é preciso que ela se candidate. Por toda minha trajetória nas lutas pelos direitos da mulher e empoderamento feminino, estando a frente, como presidente local e nacional, de uma das mais antigas instituições que trabalha a igualdade de gênero, que tem a sigla BPW de Business Professional Women, ONG que inclusive tem assento na ONU e status consultivo em várias agências internacionais, dentre elas a UNIFEM, eu tive a convicção de que é preciso também a mulher colocar o empoderamento na voz.
A escritora e pesquisadora mato-grossense, Yasmin Jamil Nadaf, que ocupa a Cadeira 38 da AML, é pioneira nos estudos referentes às escritoras mato-grossenses, com relevantes estudos no país, que comprovam atitudes preconceituosas no âmbito cultural.
Em 1993 ela publicou a obra Sob o Signo de uma flor: Estudo da Revista A Violeta, publicação do Grêmio Literário “Júlia Lopes” fundado em Cuiabá. no período de 1916 a 1950. Há registro no livro de Yasmin que Ana Luiza foi uma das fundadoras da referida agremiação voltada à literatura, bem como da revista, cuja primeira edição de 16 de dezembro de 1916, em Cuiabá, mostra um apogeu da mulher mato-grossense na vida cultural.
Escreveu Yasmin,que na primeira página do número 1 de A Violeta, anunciava-se o seu objetivo principal, e mais do que isso seu desejo de "não ser um repositório de escritos burilados pelo cinzel das inteligências luminosas da nossa terra, mas sim o escrínio singelo que encerrará em cada uma das suas páginas os nossos primeiros ensaios na vida jornalística".
A escritora relata que a idéia de se criar um grêmio surgiu de um grupo de jovens estudantes da "Escola Normal de Mato Grosso" que além de simpatizantes da cultura, desejavam a instalação de uma espaço para o cultivo das letras, e a sua divulgação, através de A Violeta, revista bimensal que teve a longa duração de 34 anos. Um marco editorial pelo tempo e pela sua abordagem.
Eu estou certa de que o nome com o qual foi batizado o grêmio, "Júlia Lopes" mostra que as suas fundadoras estavam antenadas com os fatos brasileiros e de certa forma isso foi uma maneira de se opor ao androcentrismo na vida cultural. Vale registrar que a homenageada com o grêmio feminino de Mato Grosso foi uma das grandes referências na escrita e também para a idealização da Academia Brasileira de Letras, participando das reuniões para a sua fundação. Entretanto, estudos e artigos em periódicos registram que ela foi impedida de ocupar uma cadeira na instituição, comprovadamente pelo fato de ser mulher. Afinal, a sua inteligência, a sua escrita, sua competência e as suas ideias avançadas traziam para Julia Lopes a legitimidade. Seu marido, Francisco Filinto de Almeida, por outro lado, foi aceito nos quadros da ABL.
Júlia Lopes foi considerada uma das mais notáveis romancistas do século XIX, e uma das primeiras autoras a colocar suas letras a favor do questionamento do papel da mulher.
“Nascemos, morremos e no intervalo de uma outra ação, vivemos a vida que o nosso tempo nos impõe. O que ele impõe hodiernamente à mulher é o desprendimento dos preconceitos, a assalto às culminâncias em que os homens dominam e de onde a repelem, o feminismo vencerá, por que não nasceu da vaidade, mas da necessidade que obriga a triunfar”. Imagine o que sentiu a escritora ao ver seu esposo, poeta e dramaturgo luso-brasileiro, tornar-se imortal da ABL, e ela com mais bagagem intelectual, pela visão crítica de quem tem conhecimento de causa, não. Isso configura-se numa clara demonstração do machismo no ambiente cultural. Daniel Brunet, jornalista e escritor do Rio de Janeiro, escreveu em junho de 2017, para o Jornal O Globo, quando a escritora imortal Ana Maria Machado coordenou um ciclo de palestras na Academia Brasileira de Letras, intitulada a Cadeira 41, que pertenceria aos grandes escritores do país, como Júlia Lopes e Clarice Lispector, que não conquistaram a imortalidade.
O jornalista, apresentou na época, o exemplo de Júlia Lopes como o mais polêmico, a respeito das expressivas referências de escritores que foram deixados de fora da ABL. Foi citado que a carioca Júlia Valentina da Silveira Lopes de Almeida, que viveu de 1862 a 1934 escreveu 10 livros, além de ter escrito para jornais, o que não era comum entre as mulheres. Sustentando as suas palavras, ele trouxe aos leitores,o que disse o escritor Luiz Ruffato, que foi o responsável por falar da história de Júlia Lopes, dentro da abordagem da Cadeira 41. “Ela acabou sendo preterida por ser mulher. O marido dela, um poeta medíocre, virou acadêmico”. Passaram-se, portanto, 80 anos após sua criação, para que a ABL aceitasse uma mulher em seus quadros. Ruffato teria dito ainda, que “tirando Machado de Assis, só há dois nomes que se equiparam a Júlia Lopes no século XIX: Lima Barreto e Aluísio Azevedo”.
No artigo escrito por Michele Asmar Fanini, da Universidade de São Paulo, no qual analisou-se os bastidores da eleição de Rachel de Queiroz, como a primeira representante feminina imortal na ABL mostra-se que as portas da Academia Brasileira de Letras não foram completamente abertas com o seu ingresso, mas sim entreabertas. Isso porque a entidade fundada em 1897, manteve-se conservadora, até 1976, principalmente devido ao artigo 17 do seu regimento interno, que facultava apenas aos brasileiros do sexo masculino a possibilidade de candidatarem-se. A alteração estatutária, portanto, assegurou sim a possibilidade de ter candidatas mulheres, por outro lado, não houve reconhecimento de que tenha o fato comprovado uma abertura para a igualdade de gênero na Academia. Fanini reproduz um texto de "O Correio Brasiliense", de uma observação feita por Maria Clara Machado: “não parecemos estar diante do “fim de uma discriminação”, justamente porque o ingresso de Rachel de Queiroz se nos afigura como uma espécie de casuísmo, tal como veremos na próxima seção. Tratava-se menos de aprovar a elegibilidade feminina do que de criar condições favoráveis para a viabilização de um ingresso específico”. Ou seja, quem mais trabalhou para tornar legitimo a eleição da primeira mulher na ACADEMIA Brasileira de Letras, referendando-se a luta como das mulheres, pelos registros da história, foi a escritora Dinah Silveira de queiroz, romancista, cronista e contista brasileira, que foi a segunda representante feminina a ocupar uma cadeira na ABL, recebida no dia 7 de abril de 1981.
Raquel de Queiros foi duramente criticada, pela ala feminista, da qual nunca participou, devido a escritora, ao ingressar na ABL não ter levado consigo tal ideologia. Lembrando que ela disse em que chegou à ABL, não por ser mulher, mas porque tinha uma obra.
No dia seguinte a posse de Raquel de Queiros, a notícia da conquista muito aguardada pelas escritoras femininas e feministas, as mais ferrenhas defensoras dos direitos das mulheres, teve uma divisão de página de jornal. De um lado falava-se de Raquel de Queiroz e do outro, de Dinah Silveira de Queiroz, a escritora que mais lutou para o ingresso da mulher na ABL, passando inclusive pela defesa de propostas para mudanças de ordem estatutária na instituição, que abrissem a possibilidade de eleger mulheres.
Em 1980, Dinah Silveira de Queiroz tentou mais uma vez ingressar na ABL e foi aceita. Daquele ano, aos nossos dias, somente seis mulheres foram eleitas: Lygia Fagundes Telles (1985). Nélida Piñon (1989), Zélia Gattai (2001) Ana Maria Machado, (2003), Cleonice Berardinelli (2009) , Rosiska Darcy (2013) e Fernanda Montenegro ( 2021). Ou seja, ao longo de 125 anos de fundação a ABL tem registro de apenas 8 mulheres em seus quadros.
Retomando a Academia Mato Grossense de Letras, e a primeira mulher a ocupar uma cadeira na instituição já na fase embrionária, obviamente criou-se uma expectativa forte para que outras mulheres ingressassem. E novamente foi do Grêmio Júlia Lopes a eleita. A segunda mulher a ocupar uma cadeira foi Maria de Arruda Muller, esposa do interventor do Estado Júlio Muller e também uma das responsáveis pelo Grêmio Literário Júlia Lopes, e pela Revista A Violeta. Na sequência vieram:
3- Vera Randazzo
4- Dunga Rodrigues
5- Nillza Queiroz Freire
6- Yasmin Jamil Nadaf
7- Elizabeth Madureira
8 - Amini Haddad- Juiza escritora
9- Marilia Beatriz
10-Lucinda Persona
11– Marta Helena Cocco
12– Sueli Batista
13- Cristina Campos
14- Olga Castrillon
15- Luciene Carvalho
16- Lindinalva Rodrigues
17- Neila Maria Souza Barreto
18- Marli Terezinha Walker
Gostaria de destacar que no ano do meu ingresso na AML, 2014, mais duas escritoras foram eleitas no mesmo dia e mês, fato histórico. Isso porque havia um claro esforço do presidente, da época, Eduardo Mahon em mudar o quadro, incentivando a participação feminina nas disputas pelas vagas. No ano anterior ele já havia empossado uma escritora e após a eleição histórica mais três mulheres, sucessivamente foram eleitas, em sua gestão, totalizando 7 no período inferior de dois anos. Inclusive ele empossou a primeira e única mulher negra na instituição a poeta Luciene de Carvalho.
Em minha gestão eu dei posse para três mulheres, duas delas eleitas no final da gestão do presidente anterior, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, que me incentivou a concorrer como presidente para lhe suceder. Foi ele também que deu posse para a primeira presidente da AML. Os dois exemplos mostram que as mudanças ocorreram pela boa vontade dos gestores, não se esperando mais por várias décadas.
Em 2008, 87 anos após a AML ser fundada, do grupo das primeiras 5 imortais, a instituição teve sua primeira presidente. Nilza Queiroz Freire, que gosta de recordar, que um dos diretores da época, o acadêmico, José Ferreira de Freitas, disse na ocasião, que "antes era tudo sim senhor e que agora seria sim senhora", reverenciando a mulher presidente.
Depois de 2008, o tempo de eleição para uma nova foi encurtado, não chegou a duas décadas. A segunda presidente, Marilia Beatriz de Figueiredo Leite foi eleita em 2015, e eu em 2019, apenas 4 anos depois.
Sou realizada por ter sido reeleita, reconduzida à presidência por meus méritos, mas gostaria ainda de ser a primeira presidente a transmitir o cargo para outra mulher, eliminando todo distanciamento de uma gestão para outra. Tenho trabalhado neste sentido, pois hoje há promessas para uma sucessão novamente feminina para a presidência. Há inclusive quem já tem experiência de gestão, a jornalista e historiadora Neila Maria Souza Barreto, por exemplo, que ingressou na cadeira ocupada pelo primeiro presidente, José Barnabé de Mesquita, é presidente reeleita, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, instituição também centenária, que tem sua sede junto da AML, na Casa Barão de Melgaço, conhece bem a realidade da AML.
A discussão da participação da mulher nas Academias de Letras pode ser ainda mais ampliada pela gama de mulheres acadêmicas que diretamente estão engajadas nas lutas femininas e contribuindo com seus estudos nas esferas cultural e social. Percebe-se que estamos diante de um cenário, em que a alteração das relações humanas favorece a participação mais ativa da mulher no âmbito das Academias de Letras, deixando mais distante o ranço de uma sociedade patriarcal, que relega a mulher aos planos secundários visando a manutenção e o domínio masculino. É inegável, por outro lado, que do século 20 ao século 21 as mulheres tem experienciado avanços e precisam seguir mais adiante, dando novos passos para que o empoderamento nas letras alcance números mais equitativos, já que não se discute o qualitativo.
*Sueli Batista dos Santos
Presidente da Academia Mato-Grossense de Letras*
CARTA DE GOIÂNIA – LIDA AO FINAL DO ENCONTRO PELO PRESIDENTE DA AGL, JOSÉ UBIRAJARA GALLI VIEIRA,
Três dias iluminados pela primavera – 19, 20 e 21 de outubro de 2022 –. Todavia, a luz não se disseminava, apenas, na Casa Colemar Natal e Silva, sede da Academia Goiana de Letras/AGL, situada em Goiânia, na emblemática Rua 20, 175, Setor Central. A luz também emanava da alegria da Entidade em receber ilustres presidentes das Academias de Letras do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além de especiais convidados, para o PAINEL LITERÁRIO do Brasil Central e Convidados – Encontro de Academias de Letras –, sonho antigo da confraria. José Ubirajara Galli Vieira, presidente da AGL, saudou, com boas-vindas e agradecimentos, os participantes do evento e declarou abertos os trabalhos. Três dias inteiros de congraçamentos, trocas de impressões, opiniões, experiências, debates. Momentos memoráveis, com relevantes conteúdos em palestras substanciosas, abrangentes, provocativas, enriquecedoras. Cada Painel Literário, destacado pelas peculiaridades do tema e importância das propostas, bem exposto nas falas dos palestrantes.
Dia 19
- Às 10h - O primeiro Painel, A ocupação humana do Cerrado e a narrativa decorrente, desenvolvido pelo geógrafo, Prof. da UFG, Dr. Eguimar Felício Chaveiro, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, resultou em instigantes questionamentos: 1) Quais as consequências de uma ocupação humana que não leva em conta o respeito ambiental? 2) Dizimação ambiental – há alguma recuperação possível? 3) É possível existir uma civilização apartada da Natureza?
-Às 14h30min, Sueli Batista dos Santos, que preside a Academia Mato-Grossense de Letras, discorreu sobre A participação da mulher na vida acadêmica. Ao final, ela propôs:
1) Refletir sobre a expansão do espaço da mulher na vida acadêmica e na vida cultural como um todo.
2) Realizar bienal com obras de escritores das Academias de Letras, com exposições para públicos diversificados.
3) Reivindicar ao poder público aquisição e distribuição de obras dos acadêmicos visando ao compartilhamento do conhecimento, estímulo à pesquisa social e científica e à conservação do patrimônio cultural.
4) Fundar a Federação Nacional das Academias de Letras, ampliando-se os intercâmbios.
5) Criar um observatório de gênero, junto às instituições, levantar as boas práticas nesse sentido, e o crescimento da participação feminina, não só nos processos eleitorais, para ocupação das cadeiras, mas também nos de gestão.
- Às 16h - a escritora Ester Abreu Vieira de Oliveira, presidente da Academia Espírito-Santense de Letras, versou sobre São José de Anchieta, no Espírito Santo, poeta e dramaturgo. 1) Reflexão sobre sua obra. 2) Como interpretar sua figura dentro da literatura brasileira? 3) Qual o papel da centenária Academia Espírito-santense de Letras, no cenário cultural brasileiro.
Dia 20
- Às 10h - Nesse terceiro Painel, O papel das academias de letras no Brasil foi abordado pelo escritor e presidente da Academia Carioca de Letras, Sérgio Fonta, que, antes, buscou, no passado, antigas academias, a começar pela primeira, a de Platão, na Grécia, para depois visitar as atuais, cujas dificuldades limitam suas atividades e execução de projetos. 1) A importância da força do Estado para estimular e dotar as academias literárias com aportes que lhes permitam realizar uma caminhada exitosa.
2) Situação deficitária de algumas instituições culturais.
3) Que mecanismos oficiais podem ser realizados visando ao seu melhor desempenho cultural. 4
) Alerta para a não supervisão das redes sociais e da internet.
- Às 14h30min – a escritora Mary Sônia Valadares, presidente da Academia Tocantinense de Letras, enfocou O papel das academias na vida cultural das cidades novas.
1) Como pensar a atuação de sua Academia de Letras na vida cultural da cidade e do Estado?
2) Como articular sua função cultural de defensora das tradições linguística e cultural?
3) E as novas dinâmicas sociais, movidas por novidades tecnológicas e constantes mudanças nos registros linguísticos?
- Às 16h – Escritor Henrique Alberto de Medeiros Filho, presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, expôs as Oportunidades e ameaças enfrentadas pela literatura diante das novas mídias e os suportes. Em sua fala, propôs:
1) Valorização da Literatura nas Grades Escolares públicas.
2) Incentivo das Academias Estaduais, no destaque à Literatura e Leitura.
3) Participação das Academias nas redes sociais para maior empatia com suas regiões em relação ao conhecimento de seus escritores e obras com vistas à maior difusão, popularização e conhecimento.
4) Desenvolvimento de um trabalho para maior intercâmbio e interrelacionamento entre as Academias, o que diminuirá distâncias e desinteresses.
5) Aglutinação de esforços das Academias Estaduais de Letras de todo o Brasil, junto à Academia Brasileira de Letras/ABL, despertando-a para a importância da aproximação e intercâmbio da Casa Nacional com as Casas Estaduais, por meio de convênios ou atividades em prol da literatura e da Leitura, destacando-as em seus aspectos regionais e nacionais.
Dia 21
- Às 10h – Encerrando, com ‘chave de ouro’, o evento, diga-se, de máxima significação para a Literatura, pois abriu um olhar mais amplo para temas de interesse comum dos participantes, Gilberto Mendonça Teles, decano da AGL, palestrou sobre A visão da Poesia e sua relação com os problemas ambientais.
CONCLUSÃO:
Patentes, em um contexto geral:
1) Preocupação com o meio ambiente;
2) Importância, e até necessidade, de união, contatos mais estreitos e intercâmbios literários entre as Academias de Letras;
3) Dificuldades por que passam, com a falta de apoio do governo;
4) Função das Academias de Letras para a Cultura e para a sociedade.
5) Destacada, ainda, a exigência atual de inclusão das academias nas mídias.
Assim, a expectativa focada nas propostas é unânime quanto a não deixá-las cravadas e esquecidas no papel, mas que caminhem, voem para que o sucesso deste evento frutifique-se em expressivas conquistas e marcantes realizações.
Goiânia, 21 de outubro, primavera de 2022