Sexta, 06 Outubro 2023 05:35

Sueli Batista troca o comando com Luciene Carvalho

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Numa noite carregada de emoção e reconhecimentos a poeta Luciene Carvalho assume a AML. Sueli Batista deixou seu legado.

Segue o discurso da presidente Sueli Batista, a primeira presidente que passa o cargo para outra mulher, em 102 anos da Academia Mato-Grossense de Letras. Foi uma honra para sua trajetória, na qual defende o empoderamento da mulher.

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Quero iniciar a minha fala colacando na voz a poesia da mulher escolhida para dar ser a gestora da Academia

Mato-Grossense de Letras nos próximo biênio. Uma mulher que nas suas andanças soube mover-se muito bem através daq sua produção literária, dela vivendo com se fosse a própria seiva a distribuir pelo seu corpo os nutrientes e o oxigênio necessários para um sistema contínuo de sua própria anima. E aqui está ela, chegando com a sua própria África, trazida no livro Na Pele.

MINHA ÁFRICA

Tem uma África

que é minha.

Eu a carrego

sozinha

na pele em que vou,

na cara estampada.

Eu não digo nada,

mas sei quem eu sou.

Não sei se Guiné

ou se Daomé,

talvez o Sudão.

Vasto continente.

Contudo,

a pele em que vou

não tem remetente

ou

sobrenome antigo.

Veio como artigo,

veio numa nau

como um produto

o antigo ancestral.

Minha África

é o olhar que indaga,

que segue e naufraga

nos mares e sóis…

Dia a dia,

minha África segue atenta

aos predadores

e seus sinais.

Caminha e caminha

essa África que é minha

e de ninguém mais.

Sim Luciene, sua África dividida encontrou lugar em sua fala, te trouxe para a Academia Mato-Grossense de Letras para empoderar ainda mais sua poderosa voz. Seus versos que tem a força endógena ao que se legitima, te fortaleceu e não te arqueia diante de pré-julgamentos, porque a sua força é vivência, carregada dos elementos simples da percepção do pensamento e do que guarda do que tem experienciado, como se tivesse o poder meta-humano, transcendente aos limites do grande palco da vida, o cotidiano.

 

Recentemente, eu mesma entrevistei Luciene, coisa que raramente hoje faço, para o Portal Rosa Choque, e passei a compreender mais na essência e escrevi, que ela tem a poesia como o bem maior da sua vida. Para ela nada é maior que a sua obra, nela própria. É o calor que elas tem que ela guarda e que se processa nela, não na forma dela / estar no mundo" Destaquei na matéria, o que gostaria de enfatizar, neste momento que todos aqui presenciam, do aqui e agora, que se eterniza não só nas paredes de nossas memórias, de que a sua eleição é sem dúvida a certeza, que sim, estamos diante de um fato novo. Isso porque a própria Luciene atribui que talvez neste momento não seja o mais importante o fato de que ela seja uma mulher negra, mas ela não abandona a sua crença, sua convicção de que isso impregna sim em tudo que ela é, abro aspas... "porque é o primeiro que se apresenta em mim. Não me limita, não me impede de seguir, mas eu preciso lidar com os processos e também tem a questão da representatividade, independente de eu acreditar que a minha capacidade de gestão e a qualidade da escrita que eu trago sejam de mais importantes, o povo preto tem o direito de ser representado quando uma mulher preta ocupa espaço de poder, mas longe de mim fazer disso um modo de agir ou de querer cota", fecho aspas. Luciene deixou patente que odiaria estar em qualquer espaço de poder, por seleção via Cota, por mais que isso seja uma reparação histórica, que até hoje é carregada de racismo, e não podemos nos distanciar disso, e sim comemorar as conquistas que vão além das obrigações legais, por cotas, o que aliás não cabe na seleção desta casa, O que vou dizer, traz a força do meu sentimento, do que também vivi, abrindo os caminhos com os próprios pés, a Academia MatoGrossense de Letras é sim um espaço propício para o empoderamento feminino, visto que o masculino sobressai há 102 anos, mas prá nós mulheres, que hoje somos 13 empossadas e uma eleita, no universo de 40 acadêmicos, 24 empossados e dois eleitos, jamais seria dado o poder desta casa por cota.

Senhores e senhoras, a acadêmica que está aqui do meu lado, nesta noite, em que lua cheia espia, ingressou na casa de forma legitima e legitimada por toda sua trajetória, e diria chegou por sua própria ousadia de dizer sim, eu quero. Há pouco mais de um ano eu lhe disse, Lú, (assim a chamo carinhosamente, porque nos conhecemos na estrada, não de agora), bom, eu disse à ela, porque na próxima eleição você não entra na diretoria, para começar a conhecer melhor a nossa instituição, porque eu comecei como segunda secretária, primeira secretária, e conquistei a presidência, já por duas gestões. Ela simplesmente me olhou e sorriu. Confesso que não fiz a leitura correta daquele olhar, naquele instante em que eu estava mostrando-lhe um percurso do possível. Hoje sei que os seus olhos me disseram "sabe nada inocente". E aqui está ela, que em breve espaço de tempo da minha fala ao ato da posse da Nova Mesa Diretora e Conselhos

Fiscal e Editorial, será a presidente, sim, a primeira presidente negra de uma Academia de Letras do País, conforme suas próprias pesquisas. Sim, pela primeira vez uma presidente mulher estará passando sua cadeira para outra mulher. Isso por si somente já seria um fato pioneiro na centenária história da Academia MatoGrossense de Letras, e que eu já vinha trabalhando para isso. Vou citar para reforçar minhas palavras de agora, o que disse no passado, há um ano, quando participei como painelista do Encontro de Academias de Letras do Brasil Central e Convidados, parte do que apresentei no painel e que foi publicado na Revista da Academia Goiana de Letras. Vou ler diretamente da própria obra, um registro indelével do passado para o presente.

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Disse: "Sou realizada por ter sido reeleita, reconduzida à presidência por meus méritos, mas gostaria ainda de ser a primeira presidente a transmitir o cargo para outra mulher, eliminando todo distanciamento de uma gestão para outra. Tenho trabalhado neste sentido, pois hoje há promessas para uma sucessão novamente feminina para a presidência".

Encerrei toda minha fala no encontro, com a frase já que não se discute o qualitativo, falo do quantitativo. A qualidade não tem cor, não tem raça, tem competência de ser e estar. O posto que Luciene ocupará chegou pela oportunidade, mas também pelas pessoas que acreditam na sua força, na sua coragem, na sua capacidade e na sua inteligência. Sim Luciene, eu compartilho do seu desejo de que a Casa Barão de Melgaço ganhará uma nova estatura, sim, desejo que ela cresça, eu fiz minha parte e os que me antecederam na presidência, cada qual colocou seus tijolos para edificá-la e ampliá-la nos espaços e na voz. Aqui reside uma ancestralidade centenária da qual fazemos parte, muitos em outros planos de vida, mantendo sua mortalidade a nós conferida, porque ela vem de nossas obras, daquilo que deixamos para a sociedade.

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Luciene Josefa de Carvalho, Flávio José Ferreira, Maria Cristina de Aguiar Campos, Agnaldo Rodrigues da Silva, Elizabeth Madureura Siqueira, Olga Maria Castrillon Mendes, Marli Walker, Eduardo Mahon, Lorenzo Falcão, Marta Cocco. Vocês formam um grande time, que ele seja de constantes vitórias. Nossa gestão anterior, formada por mim, Aclyse de Matos, Fernando Tadeu de Miranda Borges, Neila Maria de Souza Barreto, João Batista de Almeida, José Cidalino Carrara, Marta Cocco, Amini Haddad, Nilza Queiroz, Ubiratã Nascentes, Ivens Scaff, Elizabeth  Madureira Siqueira e Lindinalva Correi Rodrigues, se despede.

Dela temos duas participantes no conselho da Chapa "União e Tradição". Uma demonstração de que um novo processo de gestão se inicia renovado, e certamente terá sede para beber das melhores fontes. Um dos ganhos da gestão passada foi a criaçao, por Estatuto, do Conselho Superior, formado pelos ex-presidente. Eu, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, Eduardo Mahon, Nilza Queiroz

Freire e Ubiratã Nascentes, estaremos presentes. O Eduardo que é conselheiro fiscal do seu time, será uma ponte importante entre nós.

Você pode contar comigo. Aqui cumpro minha missão. Cito uma frase de Jean Cocteau que me acompanha "não sabia que era impossível, foi lá e fez".

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