Estudante de Direito na velha Faculdade Paulista, Couto de Magalhães já revelava, nas primeiras manifestações da sua inteligência, o que seria sua fulgente carreira pública. Exerceu o cargo de Secretário do Governo de Minas Gerais entre 1860 e 1861. Foi Presidente das Províncias de Goiás Pará, Mato Grosso e São Paulo. Ao irromper a Guerra do Paraguai, foi designado à Presidência de Mato Grosso; impediu que da Bolívia viessem reforços para o Paraguai
Veio Couto de Magalhães da velha Diamantina, coração de Minas Gerais, berço dos movimentos nativistas e das jazidas auríferas e com quem Mato Grosso, em seus primórdios, estabeleceu e ainda mantém fortes vínculos.
Seus primeiros ensaios versam temas nacionalistas, com assuntos históricos colhidos entre interessantes episódios da vida brasileira. Tinha vinte e três anos quando publicou “Os Guayanazes” — conto que se prende à fundação de São Paulo.
Depois, vieram a lume: “Destino das Letras no Brasil”, “Traços biográficos dos poetas acadêmicos” e “O estudante e os monges”, esta última, novela em estilo quinhentista, com que pôs de manifesto os recursos do seu maleável talento literário.
Se, a primeira é uma novela de intensa emocionalidade, a segunda, já entremostra o pensador, o liberal, o homem de governo pois, em meio à narrativa avultam conceitos felizes e oportunos acerca da arte de governar, do espírito crítico, das misérias do servilismo, dentre outros.
Um dos mais lindos tópicos desse ensaio é, por sem dúvida, aquele que descreve o viver dos bandeirantes, vejamos um trecho: “Andavam ordinariamente a pé, em magotes de dez e vinte pessoas, a viagem era traçada pelo sol, o caminho era o trilho das feras; os rios caudalosos eram transpostos a nado, as serranias eram assoberbadas, quando cortadas a pique, por escadas de cipós”.
Com a “Viagem ao Araguaia”, publicada em Goyaz nos idos de 1863, abre-se o ciclo das obras da virilidade, os trabalhos científicos e técnicos de feição acentuadamente prática.
No jornalismo, que também perlustrou, norteava-lhe a escrita o mesmo ideal nacionalista, bússola de sua vida imantada sempre pelo amor às coisas do Brasil.
Monarquista por convicção, Couto de Magalhães deixou a política como nela entrara: puro e ilibado. Ainda não completara vinte e nove anos, quando a Carta Imperial de 22 de setembro de 1866 o investiu na presidência da Província de Mato Grosso.
Não foi apenas um grande espírito de inteligência privilegiada, um caráter de velha têmpera, mas, sobretudo, possuidor de um imenso coração, um desses corações hipertrofiados pela bondade, um maniroto do bem, pois que nele as qualidades sensitivas superaram as intelectivas.
Couto de Magalhães, no dizer de José de Mesquita: “Si soubessem os maus que é ideal o bem que a gente sente em fazer bem, não havia no mundo mais ninguém que, mesmo sendo mau, fizesse o mal! ”
Couto de Magalhães foi, sem dúvida, um paladino extremado do mais profundo Nacionalismo. Aprendamos com ele a lição fecunda do trabalho que não esmorece, da coragem que não trepida, das convicções que se formam acima das conveniências pessoais e pairam além dos acontecimentos subalternos. Aprendamos o amor impertérrito da Pátria, o culto sereno da Verdade e da Justiça, únicos propelidores seguros do Progresso.
Seu nome se liga à fundação da cidade de Várzea Grande, por ocasião da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, ao antigo Acampamento que mandou edificar para defesa da Capital e que mais tarde lhe deu o nome. Era admirado por Sarita Baracat, uma das mais gradas personalidades várzea-grandenses, mulher de grande conceito, hábil na política e com quem tive o privilégio de conviver e de biografar recentemente.
Hoje, tenho orgulho de ser a ocupante da Cadeira 19, na Academia Mato-grossense de Letras, cujo Patrono é José Vieira do Couto Magalhães.